Microsoft armazenou o Super-Homem em vidro

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 4 min

Os armazéns dos estúdios de cinema de Hollywood estão cheios de quilómetros de filmes. Mas o celulóide, o meio no qual as cópias mestras dos filmes estão guardadas não das melhores opções no que respeita à longevidade porque se degrada com o tempo e é altamente inflamável. Mudar para discos rígido também não é opção porque eles também falham com alguma frequência.

É aqui que entra o novo sistema de armazenagem de dados da Microsoft, que é baseado em vidro. Segundo a revista Variety, a Warner Bros. gravou o filme Super-Homem de 1978 com Christopher Reeve, em placas de vidro do Project Silica da Microsoft, que, supostamente, duram séculos.

O objectivo do Project Silica, que foi iniciado em 2016, é a criação de uma solução ideal de armazenagem de longa duração (também chamada ‘Cold Storage’), de dados que têm de estar armazenados, mas que raramente são acedidos por longos períodos de tempo. E normalmente as cópias mestras dos filmes apenas são usadas quando são necessárias para projectos de remasterização, o que os torna os clientes ideais para esta solução de armazenagem de dados em vidro da Microsoft.

Variety

O quadrado de vidro do Project Silica, que contém o Super-Homem, mede 7,5 cm x 7,5 cm x 2 mm e armazena 75,6 GB de dados. Quando comparado com um disco Blu-ray de 50 GB a diferença é relativamente pouca, mas a Microsoft já está a desenvolver suportes com mais capacidade. No entanto, as grandes vantagens deste novo suporte são a longevidade e estabilidade. Não a capacidade. O suporte de vidro foi testado em várias condições desde ser colocado num forno, mergulhado em água a ferver, colocado num microondas até ser riscado com palha-de-aço.

O responsável pelos arquivos da Warner Brothers, Brad Collar, explicou porque foi escolhido o filme de Super-Homem de 1978. Há anos, Collar e a sua equipa encontraram gravações de áudio de uma peça radiofónica de Super Homem, mas tiverem de procurar um dispositivo capaz de as reproduzir para que pudessem ser digitalizadas. Por isso, quando ouviu falar do Project Silica, que também usa vidro, viu ali uma forma de completar o circulo.

O Project Silica usa lasers semelhantes aos que são usados na cirurgia aos olhos para gravar formas, chamadas voxels, no vidro. Estes voxels conseguem armazenar múltiplos bits de informação Em comparação, os discos ópticos conseguem apenas armazenar um bit em cada depressão. Para além disto, os suportes de vidro conseguem ter várias camadas onde armazenar os dados, ao contrário dos discos ópticos que apenas têm duas. Neste caso, o suporte que contém o filme Super-Homem tem 74 camadas.

De acordo com a peça da Variety, as novas versões destes suportes têm ainda mais camadas. Os dados podem ser lidos através da análise das reflexões de luz através do disco com um dispositivo semelhante a um microscópio. Após uma verificação bit a bit constatou-se que o filme foi gravado perfeitamente no novo suporte.

Esta colaboração entre a Warner e Microsoft é apenas um projecto-piloto. Esta tecnologia ainda tem de amadurecer mais e há a necessidade de ser criado um dispositivo unificado que consiga ler e escrever para estes suportes. Os estúdios de cinema também têm algumas dúvidas em deitar fora os milhões de latas de filme que possuem, porque as versões analógicas dos filmes são muito mais apropriadas para servirem de base para a criação de novas cópias ou versões remasterizadas.

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
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