A pequena loja dos horrores

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 2 min

Gostaria de escrever esta história, mas alguém já deve ir a meio do guião ou está prestes a lançar uma memória sobre isso: as pessoas que moderam o Facebook estão a perder o juízo. Os diversos artigos que li sobre o assunto falam de condições de trabalho péssimas e salários 1,5 vezes superiores aos de uma cadeia de fast food, pagos por empresas subcontratadas e que os vigiam demasiado de perto.

São eles que limpam das redes a pedofilia, a violência, os extremismos, para que o Facebook seja um espaço onde possamos dar alegremente a nossa informação e ajudar as empresas a promover o produto certo para nós. Mas o que seria uma função nobre, é a causa da sua alienação.

O ambiente é tenso, pleno de humor negro e sarcasmo. As drogas, o álcool e o sexo casual com os colegas são um refúgio. Geram toxicidade para libertar o veneno que filtram. Mentes moderadas abraçaram radicalismos e outros, de ver tantas atrocidades, criaram pequenas colecções pessoais de horrores, num fascínio mórbido pelo que a humanidade tem de pior.

A personagem principal seria uma jovem mulher que não arranja emprego, nem no McDonald’s, para pagar o empréstimo que lhe financiou a universidade, e que vê os colegas a afundarem-se num stress pós-traumático colectivo. Uma pequena sociedade decadente a tentar evitar que a decadência chegue à sociedade em geral. E a nossa heroína tem os seus próprios traumas com que lidar.

Os efeitos de ser observado por um Big Brother estão bem aprofundados, mas ninguém pensou nos efeitos da nossa actividade sobre o observador. Sabendo do que somos capazes, não devem ser muito bons. Como termina a nossa história? Em caos redentor, claro. A realidade, não sei. Fico a aguardar pelo filme.

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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