A nostalgia não é punk

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 2 min
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A minha geração (malta nascida no final dos anos setenta), além de rasca, tornou-se muito chata. Ninguém diria que nascemos na mesma altura que o punk, que também não foi tão espetacular como o pintam.

Qualquer série com referências dos anos oitenta é um sucesso nesta faixa etária, e os filhos de alguns só vêem desenhos animados da época, em vez destes novos de conteúdo “duvidoso”. Como se o Bell e Sebastião não nos tivessem traumatizado com a questão do abandono maternal ou se o Tom Sawyer não fosse questionado hoje em dia por ser pouco empreendedor.

E a Internet, como era gloriosa no final da nossa adolescência com o mIRC e os fóruns temáticos, longe do abismo de atenção que são as redes sociais (LOL!). A nostalgia tecnológica celebra um passado musicado pelo chinfrim de modems telefónicos de 56 kbps, sites do GeoCities e pornografia a rodos, quer a procurássemos, ou não.

Hoje, a net é um sítio limpinho, gerido por empresas que nos fornecem experiências de vida, registadas em representações muito melhores do que a realidade mas que deixarão saudades na mesma. E cabe toda num telemóvel.

A nostalgia está na moda nesta minha geração de fim de década. Talvez seja o final desta década num mundo incerto que a faz olhar para trás com lentes cor de rosa. A nostalgia é um mecanismo psicológico que dá conforto, bloqueia as emoções negativas e promove o optimismo, dizem os especialistas. É um filtro poderosíssimo e que já podem usar na vossa aplicação. Basta descarregar a última actualização e autorizar a partilha dos vossos dados.

Como não sou nada nostálgico, acho que isto explica muita coisa na minha vida. Mas antes ser rasca que chato.

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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