OpenSuse: uma distribuição Linux surpreendente

Por: André Paula
Tempo de leitura: 6 min

Confesso que nunca olhei para a OpenSuse como uma distribuição para usar em casa – aliás, poucas são as pessoas que fazem divulgação dela em especial na língua portuguesa. Contudo, continua a estar no topo das distribuições com grande percentagens de downloads mensais, o que é espantoso e intrigante ao mesmo tempo. Isto fez-me dar uma oportunidade para testar e perceber um pouco mais sobre ela. Seguem três motivos que considero impeditivos para alguém que queira usar a OpenSuse.

  • Foco empresarial

O Suse está para a OpenSuse como o Fedora está para a Red Hat: duas empresas com foco empresarial, mas que têm dois sistema comunitários, o Fedora e OpenSuse. Por isso, muitos têm a ideia de que, não só é complicada de usar, como é para ambientes empresariais. Não é verdade. O facto de ser empresarial torna-a mais estável e transmite um grau de segurança maior devido ao seu suporte. Isto é notório no desenvolvimento das duas versões principais disponíveis para download: a Leap e Tumbleweed. Ambas têm ferramentas importantes para a gestão do sistema, mais obvias e simples de usar do que em outras distribuições Linux. Exemplo disso é o Yast, um “canivete suíço” como não existe em nenhuma outra distribuição, que serve como centro de controlo do sistema, permite instalação e gestão de pacotes, actualização do sistema, gestão de grupos de permissão, configuração de dispositivos, configuração de rede, controlo de segurança e de utilizadores, virtualização, logs do sistema, etc; é semelhante a um Painel de Controlo do sistema operativo Windows.

A versão Leap é mais conservadora, para um público menos exigente e com pacotes estáveis, mas menos actuais. Por exemplo, vem com o Kernel 4.12, Firefox 60 ESR (Extended Support Release), o Chromium 73, o VLC 3.0.6 e o OpenJdk 11. Se escolherem o KDE Plasma para ambiente gráfico está na versão 5.12, ou seja, versões estáveis, mas não as mais recentes.

Já a versão Tumbleweed, acontece o oposto, já que está destinada a um público mais exigente no que toca a novidades – é uma Rolling Release, ou seja, vai recebendo as novas actualizações regularmente das versões estáveis dos vários pacotes existentes, em vez de ter um ciclo maior de actualizações como acontece na versão Leap.

  • Sistema de ficheiros Btrfs

Outro motivo que faz com que alguns não usem OpenSuse é o facto de o sistema de ficheiros ser, por omissão, Btrfs, ao invés de Ext4, geralmente usado na maioria das distribuições.

Este sistema de ficheiros é mais recente que o Ext4 e, apesar de ser diferente e em alguns cenários não ser tão rápido, no que diz respeito a dados é bem superior. É compatível com seis vezes mais dados que o Ext4, permite criar snapshots do sistema através do snapper, faz a separação de volumes e subvolumes, o que permite uma melhor gestão do espaço entre partições e está constantemente em desenvolvimento.

Portanto, apesar de ser um sistema de ficheiros não tão estável como o Ext4, e “desconhecido” para alguns, é estável o suficiente para ser usado actualmente. Mesmo que não o queiram usar, no processo de instalação é possível escolher Ext4.

  • Não é Ubuntu

Desengane-sem aqueles que pensam que a OpenSuse é igual ou semelhante a um Ubuntu: não é. O foco do Ubuntu sempre foi o de criar um sistema simples, prático e compatível com qualquer utilizador. Por isso, na maioria dos casos, usar uma distribuição com base em Ubuntu é sempre melhor. Mas a OpenSuse não é difícil de usar e, com alguma destreza, qualquer pessoa que queira aprender consegue usá-lo.

Vantagens e desvantagens
Actualmente, tenho instalado a OpenSuse 15.1 em dois computadores diferentes (a versão Leap e Tumbleweed) e o que posso dizer é que o sistema de ficheiros Btrfs é suficientemente bom para ser usado, contrariamente à experiência que tive há dois anos.

O foco empresarial adiciona ferramentas administrativas de fácil utilização transmitindo segurança, o processo de instalação-padrão é simples o suficiente para a grande maioria dos utilizadores e, para quem tem dual-boot como é o meu caso, em discos diferentes, a configuração do boot loader automaticamente no disco correto durante o processo de instalação, sem nenhuma acção extra, é óptimo.

Apesar disso, existe pouca informação do sistema em comparação com Ubuntu e derivados, é menos simples instalar aplicações que não estão nos repositórios-base. Isto acontece, por exemplo, com os codecs multimédia que não são instalados por omissão na instalação, o que implica adicionar um repositório extra depois do processo terminar. O Yast2 facilita esse processo, mas é preciso saber como fazer; se não, pode ser um obstáculo.

Conclusão:
No geral, a OpenSuse é uma distribuição que está cada vez mais simples de usar, é estável e compatível com a grande maioria do hardware mais recente, em especial a versão Tumbleweed, algo que não acontecia há uns anos. A ferramenta Yast e os Snapshots são poderosas ferramentas e funcionalidades incluídas por defeito, que considero distintas de outras distribuições. Aconselho a versão Leap para quem procura estabilidade e a versão Tumbleweed para os mais aventureiros e jogadores, já que traz as novidades estáveis mais recentes.

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Estar sempre actualizado com as novidades tecnológicas é para mim importante, em especial com tudo o que esteja relacionado com open source, linux e software livre, por isso tenho um podcast e escrevo sobre estes temas.
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