Apps da Trump?

Por: António Simplício
Tempo de leitura: 3 min

Não tinha percebido bem a histeria de toda a gente se querer ver com mais trinta ou quarenta anos em cima. Se o futuro aos jovens pertence, pareceu-me mais interessante colocar uns filtros que me tirassem pelo menos vinte em locais e nas circunstâncias actuais. A verdade é que é assim que gostaria de me continuar a ver. Parece-me um contras-senso que, numa época onde os tratamentos estéticos são tantos, tão variados e que havendo tempo e dinheiro quase se removem vinte anos na aparência de alguém, seja uma app que nos mostra em velhos a fazer a loucura das redes sociais. É passageiro e apenas mais um ‘deixa-me lá também ver como é que fico’ que outra coisa qualquer. É matar o bichinho da curiosidade estimulado pelos milhares de posts com fotos de famosos nas redes sociais.

Não se pede a ninguém que se leiam os termos e condições da aplicação, mas já sabe que não há refeições grátis. A FaceApp adopta um modelo freemium, porque o que gastou em desenvolvimento até ao seu primeiro lançamento em 2017, e de 2017 até hoje, depois de ter um filtro apelidado de racista por o embelezamento da pele ser feito aclarando-a, custa muito dinheiro. Brincar com a app pode custar ao utilizador até vinte euros por ano e estando nos tops mundiais há-de muito boa gente esquecer-se de que gratuitos, na versão Pro, só os primeiros três dias. Mas não será essa a única fonte de receita da empresa.

Esclareça-se: estas brincadeiras, quando bem feitas, são negócios de milhões. Estamos na era em que a tecnologia de inteligência artificial que é usada para nos transformar em velhinhos é a mesma que está a ser utilizada na China para seguir a minoria étnica Uighur através de reconhecimento facial. E é isso que estamos a dar de graça ou mesmo a pagar vinte euros à empresa que desenvolve o FaceApp: uma base de dados de proporção mundial de reconhecimento facial. É para ter medo, só porque a empresa é russa? Se calhar, não. Por outro lado, foi uma app/teste de personalidade desenvolvido pela Cambridge Analytica (UK) que alegadamente se diz ter sido usada pelo governo russo para influenciar a eleição de Trump.

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