Ver para crer

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min

A inteligência artificial tem avançado tão rapidamente nos dois últimos anos, que seguramente, até ao final da próxima década, não seremos capazes de distinguir sensorialmente os conteúdos sintetizados digitalmente dos criados por um humano ou captados da realidade.

Neste momento uma máquina já é capaz de produzir textos, imagens e vídeos com um nível de autenticidade e realismo que dificilmente conseguimos perceber que são falsos. Nestes conteúdos falsos, comumente chamados de deepfakes, podemos ver pessoas reais a dizerem e fazerem coisas que nunca aconteceram. Criar novas personalidades complexas indistinguíveis das reais. Ler novos livros de autores já falecidos ou ouvir o final de partituras de música clássica que foram deixadas inacabadas.

Para experienciar, de uma forma simples, os estado da arte desta vertente da inteligência artificial convido-vos a visitar o site thispersondoesnotexist.com onde de cada vez que refrescamos a página vemos uma imagem produzida digitalmente de um rosto, que na maioria das vezes, somos incapazes de distinguir de uma foto real.

O processo de criação de todos estes conteúdos baseia-se numa classe de algoritmos de inteligência artificial designados ‘redes generativas antagónicas’. No seu conceito mais básico, estas redes funcionam através do fornecimento de bases de dados massivas de conteúdos reais e relevantes, para aprendizagem por parte da máquina.

No passo seguinte, o processamento divide-se em duas redes neurais, em que uma parte gera novos conteúdos, respeitando a integridade lógica dos dados fornecidos e o objectivo da nova criação, e a restante rede faz uma validação lógica do conteúdo. Uma espécie de teste de Turing infindável em que nem o sujeito, nem o juíz, são pessoas reais.

A repetição exaustiva deste processo permite criar conteúdos capazes de passar a validação humana. Por essa razão, milhões de euros estão actualmente a ser investidos no desenvolvimento de soluções, que permitam verificar a autenticidade de um conteúdo. As mais promissoras soluções têm por base num sistema de autenticação apoiada numa blockchain.

Um conjunto de registos cronologicamente ordenados que ganham a sua validade pela concordância maioritária dos elementos que sustentam a cadeia. É realmente caricato que uma tecnologia desenvolvida para dar apoio às criptomoedas, num sistema de transações digitais irrastreável, possa ser a futura chave para certificar a nossa identidade.

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Se não pensares nisso, alguém vai fazer-lo por ti.
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