Intel inflaciona resultados de testes de desempenho para ultrapassar AMD

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 6 min

Toda a gente sabe que os resultados dos testes de desempenho que os fabricantes apresentam quando lançam novos produtos são sempre bons, por isso nunca são de fiar. Há dezenas de notícias, publicadas ao longo dos anos, que mostram que os fabricantes muitas vezes cedem à tentação de fazer batota.

É aceitável que alguns testes podem ser manipulados de formas subtis que são mais ou menos defensáveis, como por exemplo através da escolha de testes específicos, que sejam mais favoráveis a determinados produtos. No entanto, para serem credíveis, esses testes têm sempre de cumprir regras e recomendações das marcas que estão a ser compradas, que são aceites pelo mercado em geral e que representem uma utilização do componente que está a ser testado o mais próxima da realidade quanto for possível.

Outras vezes há mesmo um desrespeito completo pelo mercado, pela sã concorrência e, em última análise, pela inteligência dos consumidores.

Este é o caso presente, em que a empresa contratada pela Intel para conceber um relatório de desempenho do novo processador Core i9 em relação à concorrência, não seguiu as regras. De acordo com uma notícia da Forbes, a Intel contratou uma empresa chamada Principle Technologies para elaborar e distribuir um documento que analisa o desempenho dos novos processadores Core i9-9900K e Core i7-8700K em relação aos concorrentes AMD Threadripper 2990WX, 2950X e Ryzen 7 2700X.

Com o lançamento da nova geração de processadores, a AMD tem vindo a ganhar competitividade pelo desempenho e custo mais baixo dos seus produtos. Por isso, a estratégia da Intel de voltar a ocupar o lugar de topo no desempenho é, naturalmente, muito importante para a empresa neste período de lançamento de novos produtos.

Baseando-se neste documento, a Intel anunciou que os novos processadores Core são 50% mais rápidos que os da concorrência, principalmente num título chamado Ashes of the Singularity. É aqui que está “o gato escondido com o rabo de fora”. Os resultados do hardware da Intel são mais altos que o esperado, mas os testes foram feitos com os processadores AMD a funcionar a meio gás. Principalmente nos testes feitos ao Ryzen 7 2700X.

Existem alguns problemas com a forma como a Principled Technologies mediu o desempenho dos processadores AMD. E consegue-se ver exactamente onde é que eles estão se olharmos para a configuração dos sistemas de teste.

Em primeiro lugar, o desempenho dos sistemas com processadores Ryzen foi medido com o sistema XMP desligado. O XMP é o sistema optimizado de temporização da memória RAM, utilizado para tirar o máximo desempenho de um sistema. Se o sistema estiver desligado, os processadores Ryzen podem sofrer um decréscimo de desempenho entre 5 e 15%.

Em segundo lugar, todos os testes foram feitos utilizando uma gráfica GTX 1080Ti a 1080p. Se quisermos prejudicar o desempenho de um Ryzen esta é a resolução usar. Isto não é necessariamente injusto porque este é a resolução mais utilizada em jogos hoje em dia.

Em terceiro lugar todos os testes foram feitos em “Game Mode” nos processadores AMD. Quando este modo é utilizado, por exemplo nos Threadripper, o sistema desliga metade dos núcleos e liga o sistema NUMA que permite aos núcleos restantes trabalhar em tarefas mais próximas dos controladores de memória. Nos processadores Ryzen 7, o “Game Mode” apenas desliga os núcleos. Por isso, a AMD recomenda utilizar este modo apenas nos Threadripper.

Assim pode concluir-se que os 50% de ganho de desempenho que a Intel anuncia em relação à concorrência foram obtidos de uma forma muito pouco ortodoxa.

Aqui estão as comparações entre os resultados anunciados no documento da Principled Technologies e os resultados obtidos com os processadores AMD configurados de acordo com a documentação da AMD. Os testes foram feitos pelo site Techspot.

 

Como se pode comprovar, os resultados dos testes feitos de acordo com as recomendações da AMD, são muito diferentes dos que foram anunciados pela Intel.

A Forbes pediu uma reacção da Intel ao anuncio destas discrepâncias e a resposta que obteve foi:

“Nós damos muita importância ao trabalho das pessoas que fazem análises de hardware e esperamos que nas próximas semanas novos testes continuem a mostrar que o Core i9-9900K é o melhor processador para jogos do mundo. A Principled Technologies fez os testes iniciais em sistemas com configurações base e publicou resultados baseados nessas configurações. OS dados estão de acordo com os nossos próprios testes. Estamos à espera de ver publicados os resultados obtidos por mais entidades nas próximas semanas.”

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
Exit mobile version